Bruna Mathias da Cruz
Jeane Mendonça Garcia
Fernanda Serpa Cardoso
Helena Carla Castro
DOI:https://doi.org/10.56231/rbAHSD.110024
RESUMO
Ainda prevalece nas escolas brasileiras o mito do superdotado acadêmico, aquela pessoa que é boa em todas as disciplinas, tirando sempre as melhores notas. Esse fato dificulta que os diversos profissionais da educação reconheçam alunos superdotados nas classes de aulas regulares. O presente trabalho relata a trajetória de uma aluna negra, oriunda de família carente, sem perspectiva de ingressar na vida acadêmica. A escola na qual a aluna estudava foi contemplada com o Edital Melhoria da Escola Pública da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), resultado de uma parceria da Universidade Federal Fluminense (UFF) e do Instituto Vital Brazil (IVB). Além da melhoria na sala de recursos multifuncionais e no Laboratório de Ciências da escola, foi criado também o Projeto Jovem Cientista com o objetivo de identificar alunos com altas habilidades ou superdotação e introduzi-los em atividades de pesquisa na UFF e no IVB. A então aluna do Ensino Médio, com baixo rendimento acadêmico foi indicada por uma professora regente da turma a participar do projeto. Os relatórios apresentados em dois anos à FAPERJ, 2014 e 2015, apontaram que a aluna desenvolveu, ao longo de três anos, diversas atividades na Escola de Inclusão da UFF, apresentando seus trabalhos na forma de pôster e comunicação oral em eventos acadêmicos. A participação em tais atividades melhorou a autoestima dela que se percebeu capaz de ingressar na vida acadêmica, cursando hoje Psicologia. O caso descrito e estudado sugere que é necessário o investimento não só em espaços para a suplementação de tais alunos, mas também na formação de professores.
Palavras-chave: Identificação pelo Professor, Altas Habilidades ou Superdotação, Projeto Jovem Cientista.
ABSTRACT
The myth of the gifted academic still prevails in Brazilian schools, the person who is good in every subject, always getting the best grades. This fact makes it difficult for different education professionals to recognize gifted students in regular classes. The present work reports the trajectory of a black student, from an impoverished background, with no prospect of entering the academic life. The school the student went to was awarded the Public Improvement Notice of the Rio de Janeiro State Research Support Foundation (FAPERJ), the result of a partnership between the Federal Fluminense University (UFF) and the Vital Brazil Institute (IVB). In addition to the improvement in the multifunctional resource room and in the school’s Science Laboratory, the Young Scientist Project was also created with the aim of identifying students with high abilities or giftedness and introduce them to research activities at UFF and IVB. The then high school student, with low academic performance, was appointed by a teacher in the class to participate in the project. The reports presented in the course of two years to FAPERJ, 2014 and 2015, pointed out that the student developed, over three years, several activities at the UFF Inclusion School, presenting her works in the form of a poster and oral communication at academic events. Participation in such activities improved her self-esteem, making her realize that she was able to enter academic life, in that she is currently studying Psychology. The case described and researched suggests that it is necessary to invest not only in spaces for supplementation of such students, but also in the training of teachers.
Keywords: Identification by the teacher; High abilities or giftedness; Young Scientist Project.
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